Espiritualidade de
ARNALDO JANSSEN
Arnaldo Janssen
(1837-1909) nasceu em
Goch, pequena cidade do
norte da Alemanha. Era
um ponto de passagem de
variadas gentes por
estar situada junto da
fronteira com a Holanda.
A poucos quilómetros
ficava Kevelar, antigo e
renomado santuário
mariano, ainda hoje
centro de grandes
peregrinações. No seio
da sua família piedosa e
laboriosa, recebeu
Arnaldo uma sólida
educação cristã,
bastante aberta ao
pulsar da Igreja
universal. Esta visão
eclesial simultaneamente
realista e larga iria
ser, aliás, marca
saliente de toda a vida
e acção de Arnaldo
Janssen.
A mãe de Arnaldo era
chamada na família a mãe
orante. Ele próprio foi
desde muito novo um
homem de oração. A
oração brotava
naturalmente da sua alma
crente, da sua profunda
união com Deus e da
íntima convicção de que,
sem Ele, nada podemos
fazer. Trabalhava e
rezava pelas suas
congregações religiosas
missionárias e pelas
grandes causas da Igreja
e do mundo.
A espiritualidade de
Arnaldo Janssen estava
ancorada na SS.ma
Trindade, fonte e
plenitude de toda a
verdadeira vida. Via-se
a si e aos seus filhos e
filhas espirituais como
companheiros e
continuadores – sócios -
de vida e missão do
Verbo Divino Incarnado,
sob o impulso e a
orientação do Espírito
Santo. A regra de vida
dos Missionários do
Verbo Divino resume
assim esta atitude e
convicção: “A Sua vida é
a nossa vida, a Sua
missão, a nossa missão”.
Exercitou-se durante
toda a vida na leitura
da Palavra de Deus, na
escuta do Espírito Santo
e no discernimento da
vontade de Deus, que
desejava ardentemente
conhecer e pôr em
prática. Estudava a
fundo os assuntos,
recolhia o máximo de
informação possível
sobre o melhor lugar e a
melhor altura para abrir
uma nova missão, mas, ao
mesmo tempo, rezava e
implorava as luzes do
Alto. Quando,
finalmente, se convencia
de que um determinado
empreendimento era da
vontade de Deus, decidia
e agia sem olhar a
obstáculos por maiores
que fossem.
Duas grandes causas
animaram de modo
especial a sua vida: a
unidade dos cristãos e a
propagação da fé em
terras “pagãs”, como
então se dizia..
Conhecia por experiência
própria o drama e o
escândalo da divisão
entre católicos e
protestantes. Por isso,
calou fundo nele o apelo
de Cristo à unidade: “De
modo que sejam um como
Nós somos um” (Jo 17,22
Mas a sua mente e o seu
coração de sacerdote
ambicionavam desafios
ainda mais vastos. Cada
vez lhe ressoava mais
nítida na alma a voz de
Cristo: “Tenho ainda
outras ovelhas que não
são deste redil. Também
estas Eu preciso de as
trazer e hão-de ouvir a
minha voz; e haverá um
só rebanho e um só
pastor” (Jo, 10, 16).
Aqueles tempos não
pareciam favoráveis à
abertura de um seminário
das missões. A Igreja
alemã passava por graves
dificuldades devido às
leis religiosas e outras
atitudes hostis do
governo da Prússia..
Precisamente nessa
difícil situação, intuiu
Arnaldo Janssen uma
grande oportunidade de
começar algo de novo.
Era preciso, porém, que
os católicos alemães
entendessem como
dirigido a si próprios o
mandato do Mestre: “Ide
pelo mundo inteiro,
proclamai o Evangelho a
toda a criatura” (Mc 16,
15). Por isso, em
artigos, intervenções
públicas e contactos com
os bispos, Arnaldo não
se cansava de apontar
para a necessidade de
abrir, no vasto espaço
de língua e cultura
alemã, um seminário que
preparasse sacerdotes e
leigos para a missão ad
gentes. Perante as
hesitações alheias, e
dadas as restrições em
vigor na Alemanha,
avançou ele próprio para
a fundação de um
seminário das missões
(Missionários do Verbo
Divino) em Steyl, na
Holanda, em 8/09/1875.
Na opinião dos que
conheceram Arnando
Janssen mais de perto,
com o passar dos anos,
oração, trabalho e vida
atingiram nele um alto
grau de unidade. A sua
personalidade, antes
algo distante e fria,
como que se adoçou e
assumiu traços quase
maternais no convívio
com as pessoas. Nele, a
espiritualidade
fundira-se finalmente
com a vida.
As grandes linhas da
espiritualidade de
Arnaldo Janssen não
perderam validade nem
actualidade. A vida
cristã deve ser recebida
como dom maravilhoso que
jorra continuamente do
manancial do amor
trinitário e ser vivida
como expressão e
extensão no tempo da
própria vida e missão de
Jesus Cristo. Só a
paternidade de Deus e a
fraternidade de Jesus
Cristo, mesmo que
imperfeitamente vividas,
nos podem levar à tão
almejada igualdade de
homens e mulheres
independentemente da
raça, cor, sexo, língua
ou cultura. Qualquer
outra base sobre a qual
se procure construir a
igualdade na dignidade
será sempre pequena
demais para que nela
possa caber toda a
imensa riqueza e bênção
das legítimas diferenças
entre as pessoas.
As grandes causas ou
frentes da missão da
vida de Arnaldo Janssen
assumem hoje mil formas
diferentes. As suas
linhas de fronteira
cruzam-se com as da
nossa vida de todos os
dias: na família, no
emprego, no café, na
igreja, na escola e onde
quer que procuremos
estar como homens e
mulheres de olhos
abertos e coração
sensível.
A missão hoje é longe e
é perto e passa
literalmente à nossa
porta...
|